Fazer o bem para outra pessoa é algo que já foi moda, mas por um tempo sumiu da mídia, ofuscado por uma avalanche de ideias individualistas e autocentradas, onde as pessoas foram incentivadas a colocar a si mesmas em primeiro lugar e, muitas vezes, desconsiderar a opinião alheia. Porém, a própria solidão do auto centrismo mostrou à humanidade que compartilhar e divulgar o bem faz bem! E foi nessa crescente onda de boas ações que as empresas se viram diante de um dilema: se ganhamos tanto com os lucros obtidos através das vendas de nossos produtos, será que devemos ajudar outras pessoas também?
Algumas empresas começaram a praticar ações isoladas de caridade e ajuda humanitária, como forma de compartilhar parte dos lucros obtidos com os menos favorecidos. E o que era para ser algo discreto e beneficente, tomou rumos de ação de marketing, na medida em que as ações caridosas praticadas pelas empresas podiam ser espalhadas como notícias e incentivos ao consumo por parte dos consumidores que gostariam de ajudar alguém, mas não dispunham dos meios necessários para isso. O ato de comprar e consumir passou então a ter contornos de ação beneficente, na medida em que cada produto era responsável por gerar certa parcela de lucro para a empresa, lucro este que poderia ser revertido em projetos e programas de ajuda para os menos favorecidos. E então nos vemos hoje diante de outro dilema: afinal, qual a diferença entre filantropia e responsabilidade social? Será que todos os atos de filantropia praticados por uma empresa podem ser vistos como responsabilidade social? Ou será que os atos de responsabilidade social praticados por uma empresa podem ser vistos como ações filantrópicas? Filantropia é descrita, pelo Dicionário Houaiss, como “profundo amor à humanidade; desprendimento, generosidade; caridade”. Desta forma, podemos perceber que filantropia é o ato de ajudar alguém ou uma comunidade em específico, por meio de ações caridosas. Essas ações incluem ajudas financeiras e doações de objetos e outros itens de necessidade básica. A filantropia envolve sempre um forte senso de dever moral por parte de quem a prática, seja pessoa física ou jurídica (empresa ou outra organização). Trata-se, portanto, de uma ação de assistencialismo, sem qualquer tipo de planejamento ou espera de resultados em troca. Por outro lado, a Responsabilidade Social pode ser definida como um conjunto de ações que visam promover a melhoria da qualidade de vida de determinados grupos de pessoas ou de uma comunidade, por meio de ações voltadas para a educação, produção e distribuição de renda, além de envolver também aspectos ambientais e sociais relacionados com a sustentabilidade e rentabilidade do negócio da empresa.
Nota-se, portanto, que a Responsabilidade traz consigo um forte senso de dever cívico, no sentido de cuidar da sociedade e do meio-ambiente, não apenas o dever moral de fazer o bem para o próximo. A própria palavra responsabilidade traz consigo a ideia de responder pelos seus atos ou pelos atos de outra pessoa. E é neste sentido que a empresa pode ser responsável, por responder pelos seus atos de produção e exploração dos recursos naturais e sociais de uma comunidade. Na medida em que a empresa utiliza a mão de obra existente na sociedade e se vale de seus recursos naturais para produzir seus produtos e serviços, ela passa a ter uma responsabilidade para com o seu entorno. E é exatamente aqui que a empresa pode atuar diretamente para minimizar os impactos de sua atividade. Como? Com programas de treinamentos e educação para a comunidade, a fim de produzir mão de obra qualificada para ser absorvida pelo mercado, programas de manejo de resíduos, produção sustentável e preservação do meio ambiente. Se por um lado a Filantropia traz ajuda imediata a determinado grupo de pessoas, por outro, a Responsabilidade Social traz efeitos de longo prazo para uma comunidade inteira. Além do mais, a Responsabilidade Social visa a sustentabilidade e a sobrevivência da empresa no mercado, enquanto a Filantropia visa resolver problemas pontuais e emergenciais, não visando à sobrevivência do negócio nem a perpetuação da marca. Tanto a Filantropia como a Responsabilidade Social rendem hoje uma boa imagem para as empresas e são capazes de alavancar as vendas, considerando um público cada vez maior de consumidores que buscam empresas que “devolvem” parte dos seus lucros para a sociedade. Uma mesma empresa pode ter ações de filantropia e de responsabilidade social, pois uma não elimina a outra, nem exclui a necessidade e a possibilidade de se implantarem programas e ações específicos. De qualquer forma, cada empresa deve analisar o que é melhor para si: dar o peixe ou ensinar a pescar!